domingo, 3 de maio de 2015

Diferente



Um dia você se dá conta que, aquele livro tão estimado, não passa de mais um livro na estante. E você se dá conta que aquela música, que fazia com que você voasse em pensamentos, perdeu o encanto. E você se dá conta que não quer sair num domingo ensolarado, pela manhã. E você se dá conta que foi dormir mais tarde, bem tarde, mas não está cansado. E você se dá conta que certas lembranças perderam o poder de fazer lembrar. E você se dá conta que alguns detalhes, outrora capazes de lhe arremessar a uma imensidão de sentimentos, não passam de detalhes, ora quase imperceptíveis. Você se dá conta que tudo, de certa forma, está diferente.

Se existir um tempo, um lapso de tempo, entre o passado e o futuro, mas que não seja o presente, devo, hoje, habitá-lo, mesmo sem tê-lo consciente. Umbral de quem ainda vive, tela inacabada de algum pintor famoso, receita sofisticada, embora pareça embatumada? Terra de transição! Barco à deriva, embora tendo clareza da existência de um porto. Um porto bem próximo, distante apenas de um comando, da decisão de ancorar.

Eram muitos ontem aqui, muitos amigos; na verdade, todos. E, por alguma razão inexplicável, todos também pareciam diferentes. Todos me trataram de forma diferente. Não me senti estranho, pelo contrário; e mesmo que a sensação fosse como ser outro, estar em outro lugar, eu sabia, intimamente, que era o meu lugar, e eu era quem sou. Foi algo como uma realidade inexplorada, talvez. Como é difícil definir em palavras!

E quando todos se foram, bem tarde, madrugada adentro, sem pensar, possivelmente seguindo os instintos, eu pedi que ele ficasse. Meu Deus, quantas vezes, tantas vezes, milhares de vezes, circunstâncias tão semelhantes, eu também pedi... mas ontem, não sei, foi diferente! E ele também percebeu. Ele me olhou diferente. Eu vi seus olhos... tão diferentes!




Um comentário:

  1. Como é bom qdo nos tornamos "diferentes" não é mesmo! Que os proximos dias continuem assim meu cara ...

    Beijão

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